Fiocruz testará eficácia de dose diluída da vacina da febre amarela r1p2r

A Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) testará a eficácia de uma dose diluída da vacina da febre amarela. Trata-se da segunda parte de um estudo realizado pela primeira vez em 2009, quando 900 homens receberam a vacina diluída pela primeira vez. Agora, a entidade está avaliando se anticorpos contra o vírus se mantêm a longo prazo. A iniciativa tem financiamento da organização britânica Wellcome Trust e apoio da Organização Mundial de Saúde. 606cg

O trabalho de campo está sendo concluído, mas a Fiocruz fará ainda os testes laboratoriais para concluir os estudos. “Se esse grupo se mantiver protegido, isso vai dar uma confiança de que doses reduzidas permitem imunidade a longo prazo”, diz Reinaldo Menezes, consultor da Fiocruz e coordenador científico dos testes. A perspectiva é que os resultados sejam divulgados até o final do ano.

Em março, o Ministério da Saúde avaliou adotar um método fracionamento da vacina no Brasil em face da demanda pelo imunizante. A medida, no entanto, não chegou a ser adotada.”O fracionamento não é trivial e tem que ser feita toda uma mudança na produção. Não é assim na semana que vem”, diz Menezes. Uma das questões é a compra de uma seringa especial em larga escala para a istração da dose de 0,1 ml – ao invés de 0,5 ml. “Ela não existe no mercado. Deve ser feita uma compra internacional.”

Na diluição, há a presença de menos cópias do vírus na vacina; já no fracionamento, a vacina é istrada em uma dose menor. O princípio da eficácia, contudo, é o mesmo. Quando o Ministério da Saúde cogitou o fracionamento, uma das questões levantadas era sobre o tempo de eficácia, já que os estudos com a dose diluída haviam acompanhado indivíduos por 10 meses e a vacina protege por 10 anos. “Isso não significa que a vacina diluída não protege, só indica que a efetividade precisa ser avaliada e é isso o que vamos fazer.”

A vacina diluída poderá ser usada em situações emergenciais, já que hoje há apenas dois grandes laboratórios que produzem a vacina no mundo: Biomanguinhos, ligado à Fiocruz, e a empresa Sanofi Pasteur, com sede na França. As iniciativas também serão discutidas em na 19ª Jornada Nacional de Imunizações SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), que acontece em São Paulo, entre 9 e 12 de agosto.

“A investigação sobre a eficácia da diluição da vacina é importante porque doenças como a febre amarela estão em expansão no mundo e há a previsão de aumento na demanda”, diz Reinaldo Menezes, consultor da Fiocruz.

Diluição garantiu imunidade – Na primeira parte do estudo, feito em 2008 e 2009, 900 homens receberam a vacina diluída. Com os resultados, pesquisadores atestaram a eficácia do imunizante em uma diluição que pode chegar a 50 vezes menor que a dose usualmente aplicada. “Essa diluição significa que há 50 vezes menos cópias do vírus”, explica Menezes.

As pessoas que receberam a vacina nessa primeira fase foram acompanhadas por 10 meses – e a proteção se manteve. Agora, com os testes de 2017, será possível analisar se o imunizante é capaz de proteger indivíduos por um tempo maior. A entidade já conseguiu contato com um terço dos participantes que participaram do primeiro estudo feito há 8 anos.

Ainda, a Fiocruz planeja novos estudos para 2018 – dessa vez, com testes da vacina diluída em crianças para comprovar também a efetividade da estratégia nessa faixa etária.

Medida ajudou a combater surto no Congo – No ano ado, os estudos de diluição realizados na Fiocruz ajudaram a Organização Mundial de Saúde a combater surto de febre amarela na República Democrática do Congo. Por recomendação da OMS, a vacina de 0,5 ml foi fracionada e o país aplicou uma dose 5 vezes menor: de 0,1 ml.

“Já que atestamos que uma diluição de até 50 vezes era eficaz, a conclusão é que um fracionamento em cinco vezes poderia ser utilizado para ampliar a oferta da vacina em face da emergência”, explica Menezes.

Com a recomendação da Organização Mundial de Saúde, o país conseguiu imunizar 7 milhões de pessoas em duas semanas em 8000 postos de vacinação. Foram utilizadas vacinas apropriadas e a e a epidemia foi rapidamente controlada.

“Essa experiência amplia o conhecimento sobre a utilização de doses menores da vacina de febre amarela, que permite aumentar rapidamente o número de doses disponíveis em situações emergenciais”, diz o especialista. (Fonte: G1)